sábado, 5 de maio de 2012

Crianças e adolescentes dominam as aulas de MMA

Equipe da aula de iniciantes da RFT Rio de Janeiro. O MMA é uma
das especialidades da academia (Reprodução: Pedro Motta)
Seis horas da tarde. O treino de artes marciais mistas na Renovação Fight Team (RFT), em Botafogo, começa e, no comando, o professor Felipe Borges. André Guilherme, de 15 anos, chega, põe as luvas, o protetor bucal, e segue para mais um dia de treinamento. E pensar que tudo começou como simples hobby, assistindo lutas do Ultimate Fighting Championship. “Era Anderson Silva para lá, Minotauro para cá. Como ele era muito agitado, foi só unir o útil ao agradável: decidi colocá-lo em uma academia”, esclarece Sonia, a mãe do lutador. A diferença é que, agora, ele vai para a academia todos os dias.



- Eu sempre fiz luta: judô, jiu-jítsu... Comecei no MMA há uns dois anos e, na verdade, por causa do meu pai, que conhecia a dona de uma academia. Parei por um tempo e voltei recentemente, mas nunca deixei de assistir os eventos, como o Jungle Fight e o UFC. Meus pais sempre me incentivaram a lutar, nunca tive muito problema com isso – declara o aluno.

“Gordinho”, como é carinhosamente apelidado, é uma prova de que esse esporte evolui cada vez mais e, como afirmam alguns jornalistas atuantes na área (talvez querendo “puxar a sardinha para seu próprio lado”), o segundo maior em crescimento no mundo, apenas atrás do futebol. Mas não é só por causa da fama e dos ídolos que o MMA desponta – sem dúvidas, isso contribui muito –, mas também existe por trás de tudo uma base calcada na disciplina e no respeito, sem contar que, para aqueles jovens mais bagunceiros e rebeldes, é tudo que os pais desejam. “Meu filho gasta toda a energia na aula, dorme cedo, come mais e me obedece mais”, diz a mãe de Felipe, outro aluno da RFT, de 13 anos.


       Pular corda é uma das etapas do alongamento feito antes do treinamento
(Reprodução: Pedro Motta)

No que diz respeito à polêmica ligada à violência, a opinião é a mesma: é praticamente inevitável dissociá-la do esporte. Mas, embora haja uma unanimidade acerca do assunto, os responsáveis confiam nos profissionais que moldam suas crianças.

- Muitos me acham maluca por colocar um filho meu para lutar MMA. Eu mesma tinha esse preconceito, até conhecer o esporte mais a fundo. Primeiro, eu comecei a praticar, e a partir daí, não parei. A segunda coisa foi por o Jonathan nas aulas. Eu sei que os professores vão cuidar dele lá (referindo-se ao tatame, onde são feitos os treinamentos) – comenta dona Andreia, que frequenta as aulas no mesmo local que o filho.

E, em defesa dos amantes e praticantes da arte, bastam alguns números para comprovar a segurança das artes marciais mistas, em relação a outros esportes. Uma pesquisa da Universidade Johns Hopkins, dos Estados Unidos , avaliou 1.270 lutadores: somente 24% sofreram uma ou mais lesões e, destes, 84% tiveram uma única contusão. 



"Gordinho" aplica um double-leg - golpe em que se agarra as pernas
do adversário para derrubá-lo - em seu companheiro de treino
(Reprodução: Pedro Motta)
Vale destacar que o esporte é regularizado por comissões atléticas ao redor do mundo e o maior evento que o promove internacionalmente, o UFC, conta com a presença de médicos em cada um de seus combates, sendo obrigatório o uso de equipamentos de proteção, entre outras exigências, enquanto que o hóquei, por exemplo, não possui um controle de regras quanto a brigas em quadra, momentos esses, em que não há, nem mesmo, a intervenção do árbitro, o que põe mais ainda em risco a integridade do atleta. Da mesma forma, é o futebol americano, no qual os tackles, ou seja, as pancadas são inerentes à prática do esporte, usados para parar o adversário, que fica sujeito a lesões.

O lutador de MMA, Betão Nogueira, competidor do evento Bellator Fighting Championships, diz que a noção de violência já está ultrapassada. “O MMA tem muito a oferecer aos jovens, tanto no físico, quanto socialmente, afastando de más influências. Eles são ensinados a ter respeito, auto-estima”, argumenta. “A questão da violência é muito da época do vale-tudo, que o pessoal era vagabundo. Hoje, é uma modalidade tão importante quanto as outras, capaz de criar verdadeiros atletas”, continua.

Outra determinante é a prova de que nunca ocorreu uma morte sequer em ringues do Ultimate, ao passo que, vez ou outra, vê-se uma tragédia no futebol ou no boxe, este último responsável por inúmeros incidentes a longo prazo na vida dos atletas, devido a fatores como o tamanho das luvas usadas (mais pesadas) e a maior quantidade de golpes desferidos na cabeça, a uma distância muito menor, já que o esporte é muito disputado no clinch. “São estatísticas que não absolvem o UFC, tema mais curtido do Facebook no Brasil ao longo de 2011, da dura imagem que ainda tem – mas ajudam a conferir um olhar (...) mais generoso ao esporte de Anderson Silva”, como traz um trecho de uma reportagem da edição de 14 de março da Veja deste ano, sobre artes marciais mistas, que se enquadra justamente nesse fato.

Hoje em dia, o esporte está no bate-papo entre amigos, no jantar em família e ocupa espaço nos meios de comunicação. O treinador da RFT, Márcio Cromado, prevê que, em alguns anos, ao se pensar em luta, a primeira coisa a vir à mente é o MMA. “A tendência é que as artes marciais mistas substituam a unidimensionalidade do jiu-jítsu, do boxe ou do judô. É só atentar para a eficácia do esporte: ao invés de aprender uma ou outra modalidade, você pode aprender todas em uma só”, explica o líder da academia, conhecido por todos, simplesmente, como “mestre”.  





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